9 de julho de 2012

Nós os Outros

Disse-lhe para aproveitar as férias porque elas não voltam. Estava a ver os últimos grãos de areia das suas a cair na ampulheta que ditava o seu regresso à rotina, onde já não estavam contempladas manhãs preguiçosas, tardes de praia, nem conversas de madrugada.
Ela emocionou-se ao perceber que tinha razão. Tinha de aproveitar os dias de férias que ainda tinha pela frente e que eram mais que muitos. Dias que fariam as delícias das mentes sonhadoras, da sua inclusive, contudo eram esses mesmo dias o cerne do problema.
Eram dias demasiado longos e solitários, aqueles que tinha pela frente. Dias num local que já nada lhe diz e onde o único responsável por lhe arrancar um sorriso sincero é o mar azul sem fim. Mar para onde quer que olhe. Mar esse que, com a mesma facilidade que lhe arranca sorrisos, constrói muralhas à sua volta.
Usa o novo fuso horário como desculpa para não ir já descansar do dia longo que passou entre aeroportos e malas pesadas. Abre os Contos e lê cinquenta páginas de rajada enquanto as lágrimas secam e confirma que, sim senhor, ele escreve deliciosamente bem. Quando finalmente o cansaço vence, não se lembra de ter chorado.

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