Highly sensitive

Eu gostava de saber escrever bem. Mas não sei. Gostava que a escrita fosse o escape perfeito para todos os melodramas que se passam na minha vida. Não é que não o seja, mas o resultado nunca é aquele que eu desejo. Sou sempre demasiado exigente. Quando, milagrosamente, até acho que escrevi alguma coisa decente, não sou capaz de partilhar, porque sei que dias depois, nada daquilo irá fazer sentido. Vão ser apenas meia dúzia de tretas ridículas que escrevi porque queria soltar de forma mais contida as lágrimas que me impedi de chorar, porque os soluços se tornaram insuportáveis de conter, quando tudo o que eu queria era poder chorar ruidosamente sem me preocupar que alguém me viesse acudir.

Eu gostava de saber escrever bem. Mas não sei. Sempre tive esta inquietação, porque, apesar das boas notas a português, de abominar erros ortográficos, assim como as pessoas que os dão, e de invejar profundamente todos aqueles que escrevem bem, as palavras que vou debitando nunca se relacionam harmoniosamente entre si. Parece-me tudo mecanizado, como os exercícios que me obrigam a fazer desde que me lembro. Tenho sido fiel à matemática, mas sempre quis ter um caso com as letras. Não é por acaso que escrever um livro sempre foi um ponto da minha lista de coisas a fazer antes de morrer, mas esta pancada foi-me passando. Porque eu não sei escrever bem. Embora tenha sempre muita vontade de escrever, mesmo nos dias em que estou completamente seca. Mesmo nos dias em que não me apetece falar, as frases constroem-se na minha mente, num ciclo, quase que infinito. Não sei onde vou buscar tanto neurotransmissor, tanta sinapse, tanto romance, tanto drama, tanta comédia, tanto medo, tanta imagem, tanta palavra. Estou exausta, mas eles não me deixam descansar. E, como que rendida, vou clicar no Publicar Mensagem.